Para ouvir enquanto lê:
Ontem foi dia de análise. Terapia P-R-E-S-E-N-C-I-A-L.
Estou dando ênfase mesmo, porque depois de muitos meses fazendo on-line, encontrar meu terapeuta e abraça-lo é reconfortante demais. Se tem alguém aqui que ainda não saiba, uma das coisas que mais me comprometo na vida, se não for a maior delas, é meu processo terapêutico. Autoconhecimento aqui é levado muito a sério. Meu ambiente seguro então, nem se fala. Não por acaso, a sessão foi basicamente sobre como ‘voltar’ a muitas das minhas antigas versões, não me culpar por ter feito o que podia naquela época e analisar o que posso fazer no dia de hoje. Mal sabia eu, que este exercício seria usado tão rapidamente a partir dali.
Horas depois, estaria com mais duas amigas, após longas garrafas de cervejas vazias, pagode, hambúrgueres, porções, sessões de fotos e paquera, sentadas no chão de taco do apartamento de uma delas, chorando, falando sobre dores do nosso passado e o que foi viver aquele momento tão duro para cada uma de nós. O silêncio que durou por alguns anos se quebrou com palavras duras, porém honestas e por vezes, doces. Nos abraçamos. Acolhemos cada uma, vez ou outra com risadas exageradas ou com lágrimas gordas e massagem na mão para acalmar, decidindo que além das dores daríamos uma nova chance pro nosso amor.
Hoje, me sento em frente ao computador e fico por mais de três horas tentando escrever sobre a dor que atravessa meu peito neste dia. Encerrei um ciclo com um companheiro, dez dias antes dele completar um seu. Impositivamente queria escrever um e-mail bonito de aniversário. Inesperadamente me vi sorrindo e sabendo por certo que o e-mail bonito seria para mim. Desta vez, a dor que dilacera e faz chacoalhar até meus ossos, cumpre seu papel rapidamente, fazendo com que eu pare, respire, pense e a use para me ajudar a agir melhor da próxima vez. Sempre vai ter a próxima vez.
Não sei você, mas eu por muitos e muitos anos deixei as emoções que julgamos como negativas se instalarem de tal forma não dando a chance de entender o motivo de senti-las e o que fazer a partir destes sentimentos. As coloquei num lugar de ruindade. As enxerguei como obstáculos ao invés de olha-las como oportunidades para meu crescimento. Com autoconhecimento entendo e honro cada emoção que hoje passa por aqui.
Nesse rolê todo de aprender a se perceber, Rupi Kaur me ensinou dias desses sobre amores recebidos e doados ao longo da minha vida. Ela diz que a forma como a gente se ama é como ensinamos todo mundo a nos amar. Da mesma maneira que pessoas nos causam dores é de muito bom grado saber que você vai machucar alguém. Que você vai fazer alguém sentir dores profundas e que pode ser que ela não te perdoe nunca mais por isso. Se responsabilizar por suas atitudes e consequências é olhar com muita firmeza para suas impossibilidades, para seus erros, para os limites do outro, sentir muito e usar todas essas ferramentas para respeitar teu processo.
Qualquer tipo de emoção, seja ela a mais difícil ou a mais linda de ser sentida, quando ultrapassa nosso peito transforma nossa existência para sempre. Antes disso, o que nos afeta e nos paralisa é digno de muito respeito. Depois, ao saber de tudo isso a vida segue numa fluidez que chega assusta. A intensidade vira morada fixa dentro de gente. Passamos a não aceitar sentir pouco. Usamos a coragem como combustível para olhar nossas verdades sabendo que sairemos do outro lado mais forte, mais leve, mais alegre.
Assim é, a dor e a delícia de ser o que se é.
Amei amigaaaaa
Lindo texto! Muita clareza na escrita, a gente sente junto. Obrigada por compartilhar ❤️